Não somos feitas somente de violência, mas também de resistência e excelência

Leia o artigo da diretora de Assistência Estudantil da UNE, Nay Aviz, sobre o Dia da Visibilidade Trans comemorado neste 29 de Janeiro

Quando se fala em pessoas Trans e Travestis no Brasil, infelizmente quase sempre os conteúdos e discursos estão relacionados à morte, à violência, à precariedade e à marginalização de nossas vidas. Uma rápida busca na internet revela as principais manchetes que estão ligadas às pessoas Trans: registros de assassinatos, a crescente violência, a criação de Leis que invalidam nossa existência. Não é à toa. De fato, a realidade para pessoas Trans no Brasil não é fácil, visto que há quase 15 anos o país segue no topo da lista dos lugares onde mais se mata pessoas Trans no mundo, resultando uma expectativa de vida que não passa dos 30 anos para a nossa população.

Mesmo tendo a Transfobia como crime desde 2019, de lá pra cá, nada efetivamente mudou no que diz respeito ao trato de nossas vidas. No entanto, neste 29 de janeiro, em que se comemora o Dia da Visibilidade Trans, é importante fazer um questionamento: quantas de nós não estão na marginalidade? Quantas de nós fogem ao que, por vezes, é regra e estão sendo bem sucedidas nas suas mais diversas áreas de atuação? Quantas seguem, resistindo, vivas, com excelência? Somos muitas, muitos e muites, que, por vezes, não ganhamos as capas e principais manchetes dos jornais, não somos o vídeo mais reproduzido nas redes sociais e nem a música mais escutada das plataformas. Isso ocorre porque a sociedade ainda está interessada na espetacularização, em nos mostrar somente desfiguradas ou mortas após um caso de agressão.

A violência é, sim, um pilar que marca nossas vidas – visto todos os dados já apresentados – mas não é o único. Seguir destacando somente as violências contra nossos corpos é manter viva uma estrutura social que há muito tempo define este como o único espaço que nos cabe. Que nos mantém sendo expulsas de casa, que nos mantém nas ruas, precisando recorrer muitas vezes para a prostituição, que nos mantém morrendo antes dos 30 anos.

Em 2004, ano do lançamento da campanha “Travesti e Respeito” pelo Governo Lula, movimento que deu origem ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, essa necessidade já era colocada em pauta com a frase chave “Travesti e respeito: já está na hora de os dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate. Na escola. No trabalho. Na vida.”. Não somente hoje, mas em todos os dias, é importante mostrar que podemos e devemos ocupar todos os espaços. Da Universidade ao Congresso Nacional, das artes aos tribunais, na frente ou atrás das câmeras, com família, com mãe, pai, com filhos.

Que a visibilidade Trans de fato dê conta da nossa grandeza, de tudo que fazemos e produzimos, de todos os lugares aos quais estamos. Que cada vez menos a morte e a estrutura de violência que atenta contra nossos corpos tenha destaque, e cada vez mais a nossa vida seja a pauta principal.

*Nay Aviz é diretora de Assistência Estudantil da UNE.

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