Em 2020, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei pela criação do Parque Municipal do Bixiga, de autoria de Gilberto Natalini e co-autoria de muitas vereanças. Mas o projeto foi vetado pela prefeitura.
Três anos depois, o projeto pela criação do Parque do Rio Bixiga, de autoria do então vereador Eduardo Suplicy também com co-autorias preciosas, agora sob batuta de Luna Zarattini e vereadoras e vereadores aliados, volta à tona na Câmara de São Paulo e acaba de ser aprovado em 1ª votação.
Agora, é preciso que o movimento em defesa do Parque do Rio Bixiga, em defesa de modos de existir que reexistem nos grandes centros urbanos, em defesa da sobrevivência humana, dos rios, das plantas, dos animais, em confluência frente aos graves avanços de emergência climática que estamos experimentando, siga sua luta pressionando os vereadores da cidade de São Paulo pela aprovação do projeto em 2ª votação e, finalmente, pela sanção do Prefeito.
O recente projeto feito por um grupo transdisciplinar de trabalho, composto por pessoas de arquitetura, de engenharia hídrica e ambiental, acaba de desenvolver um projeto piloto para solução hídrica nos grandes centros urbanos, respondendo às inundações e enchentes que assolam as cidades. Este projeto prevê a regeneração de um trecho do rio Bixiga, que corre a 4 metros do chão no epicentro do último chão de terra livre do centro da cidade de São Paulo – os 11 mil metros quadrados do Parque do Rio Bixiga.
A abertura do rio Bixiga não carrega apenas uma solução paisagística de um espelho d’água contemplativo, mas também cumpre função ambiental, na medida que contribui para a redução da temperatura local, considerando que o Bixiga tem uma das maiores ilhas de calor da metrópole e é uma das regiões da cidade com o pior índice de área verde por habitante; também para a drenagem das água que recaem naquele quarteirão proveniente da bacia hidrográfica do Bixiga, como também para o limpeza das águas dessa bacia, através de um tratamento de fitorremediação a céu aberto e de acesso público. Configurando um piloto de soluções para a emergência climática no epicentro de São Paulo.
O atual projeto de lei que cria o Parque do Rio Bixiga (PL 877/2021) prevê, além do projeto piloto de soluções hídricas para a cidade:
O Parque do Rio Bixiga é questão de saúde pública, é uma luta em defesa de um território de encontro de culturas, memórias vivas, patrimônios históricos e ambientais.
Um dos grandes legados que recebemos de José Celso Martinez Corrêa para este movimento é a capacidade infinita de regeneração na vida, é a sabedoria de ser um ser coletivo movido pelo desejo de confluências, de lutar junto, lado a lado, a cooperação e a simbiose importam para a sobrevivência de toda a vida na terra. O teatro e seus povos trouxeram para essa luta a tecnologia política da contracenação de tudo, sem medo do encontro.
Por isso, pedimos aos vereadores e vereadores da cidade de São Paulo que abracem esse movimento, que se coloquem ao lado da proteção da vida nos grandes centros urbanos, e ao Prefeito Ricardo Nunes, que sancione essa tão desejada PL e dê esse tão sonhado presente para São Paulo.
Conheça esta luta:
Um terreno vazio na região central de São Paulo, que já foi ocupado por construções populares, pequenos comércios, casas da colonização italiana e uma sinagoga, há quase 50 anos é cenário de uma disputa urbana.
O Grupo Silvio Santos comprou quase todos os imóveis desta área de 11 mil m² entre as ruas Jaceguai, Abolição, Japurá e Santo Amaro e demoliu um por um para formar o terreno vazio que se vê hoje. Para o terreno já foi pensado um shopping center, mas agora o Grupo Silvio Santos quer construir três prédios de uso comercial e residencial, de 24 a 28 andares e quase 100 metros de altura cada um, com três subsolos de estacionamento.
Nesta disputa, de um lado estão os interesses do mercado imobiliário e o crescimento desenfreado de um projeto de cidade que visa apenas o lucro e a especulação.
De outro lado, uma luta encabeçada por moradores da região, artistas, coletivos e movimentos que lutam pela criação do Parque do Rio Bixiga, um espaço verde, de lazer e de produção cultural. Um local de preservação histórica e ambiental no coração do Bixiga.
Nos entornos do Parque do Rio Bixiga, a história de São Paulo pulsa: na mesma quadra está o Teatro Oficina, experiência cultural com reconhecimento nacional e internacional, liderada por grandes nomes da dramaturgia como o dramaturgo Zé Celso, um dos fundadores do Teatro e que seguiu lutando pelo Parque até seu falecimento, em julho deste ano. A importância do Teatro Oficina foi reconhecida através de seu tombamento. Lá, uma grande janela se abre para o terreno do futuro Parque.
Nas proximidades do terreno e do Teatro também estão a Casa de Dona Yayá, o Castelinho da Brigadeiro, o Teatro Brasileiro de Comédia e a Escola de Primeiras Letras, todos patrimônios tombados.
Nas proximidades do terreno também está a Escola de Samba Vai-Vai e o Quilombo Saracura, cujos remanescentes encontrados em escavações na Praça 14 Bis mostram que o bairro é uma das Pequenas Áfricas de São Paulo. Essa região fica às margens do córrego Saracura, hoje condenado ao subterrâneo, mas que em outros tempos possibilitou a existência do quilombo no século 19.
É preciso desenterrar não só o Rio Bixiga, mas toda a história do bairro, construída por imigrantes e migrantes que fizeram do Bixiga sua morada e criaram uma cultura popular própria do bairro.
A luta pelo Parque do Rio Bixiga é a luta por um espaço comum de sociabilidades, de lazer, de produção cultural e de práticas ecológicas pela renaturalização do rio Bixiga e reconstituição do bioma da região. A construção do Parque também é uma forma de proteger outros espaços culturais e históricos do bairro, impedindo que avancem sobre este território prédios comerciais, shopping centers e condomínios elitizados. São desafios de novos tempos marcados pelas mudanças climáticas, pela especulação imobiliária e por uma cidade que cresce às custas do capital.
“A criação deste parque cumpre uma função ambiental clara, e, se a cidade acumula tragédias ambientais e doenças pela escassez de áreas verdes, é obrigação dos órgãos públicos criar mais áreas verdes, traçar um plano de reflorestamento urbano e de recuperação dos biomas. O Sol, a Lua, o ar, a terra, a água, o verde, os pássaros, as abelhas, o teatro, somos todos um povo em luta pela vida!”
Zé Celso